terça-feira, 24 de agosto de 2010

O PERFIL DO LÍDER CRISTÃO, SEGUNDO A EPÍSTOLA A TITO




Ao tomarmos o contexto de formação e luta por estabelecimento, que a igreja enfrentava na época da produção do texto, surgindo como crítica a uma religião forte e bem estabelecida na sociedade, como era então o judaísmo, podemos nos perguntar pelo motivo de haver tão grande semelhança com os problemas atuais da igreja e aqueles que Paulo já percebia e contra os quais advertia a Tito. Se hoje o cristianismo já se estabeleceu praticamente em todo o mundo, era de se esperar que já fosse algo fácil de ser entendido. Se não o é, causa preocupação, pois, não parecemos ter mais dois mil anos para, descobrindo o problema, reprogramar todo o cristianismo em direção à verdadeira verdade.
Paulo orienta Tito a ser modelo, a ser destemido e atrevido, mas de palavras sábias e poucas, porém graves, ou seja, incisivas, sem delongas ou medo de melindres. É o que parece que, Paulo, como legítimo instituidor da igreja que o era, ou se sentia, esperava dos líderes que deixava a estruturar as igrejas por onde passava. Russel Shedd[1] diz que o líder cristão é responsável pela escolha dos objetivos do grupo que lidera, em conformidade com a vontade de Deus, devendo observar a lei e o alvo dEle.
Paulo direciona Tito à luta contra determinadas posturas, bem como, prescreve já de antemão as características desejadas do “homem de Deus”. Podemos entender daí, que Paulo, entendendo-se como responsável pela expansão e sistematização do Evangelho, deixa claro que conhece a vontade de Deus, conhece o alvo de Deus e a lei de Deus. Mais que isso, ele propõe que a vontade de Deus é que o homem obedeça à lei, não a lei formal e engessada do judaísmo, mas a lei suprema do amor, que determina o alvo de Deus, que não podemos entender ser outro, senão a redenção e a libertação de toda a humanidade da situação de alienação em que ela vive, em relação ao seu estado original e desejável.
Assim sendo, o que Paulo espera de Tito e dos líderes que este recebeu a incumbência de preparar, nada mais é que, sejam todos observadores desses três princípios que Shedd define como fundamentais na pessoa do líder: a vida dos líderes deve ser marcada por um profundo senso do chamado de Deus para servir outros. Eles devem estar sintonizados então, com o alvo de Deus; o líder deve ainda, discernir entre a vontade de Deus e a sua própria, evitando assim, o risco iminente de fazer parte dos tipos contra os quais Paulo adverte a Tito, a saber, os que afirmam conhecer a Deus, mas negam-no com seus atos (1:16); enfim, o líder precisa estar em sintonia com a lei de Deus, ou seja, precisa ser praticante da lei do amor, que é a que nos restou, segundo o próprio Paulo em 1Co.13:13.
O líder que cristão que entende que a vontade de Deus está na lei de Deus, a qual determina o alvo de Deus, esse ensinará a seus liderados a buscar na vontade de Deus a lei do amor, cujo alvo é a libertação.

Tanto Paulo quanto Tito, pelo que se pode perceber na carta, já tinham como certo, assim como o temos hoje, que o povo não está naturalmente apto a peencher os requisitos esperados de um observador da lei de Deus, nem mesmo das leis humanas. Os próprios líderes da época, não diferentemente dos de hoje, tinham que ser escolhidos a dedo, face à carência de valores morais adequados, já existente, assim como hoje. Alí já se encontravam os famigerados exploradores da boa fé das pessoas, com o intuito único de angariar “lucro ilícito” pela propagação de ensinamentos falsos e diversos do verdadeiro Evangelho. As advertências que Paulo faz a Tito, são para que cale tais vozes, através da repreensão dos seus possíveis ouvintes, para não serem levados por tais ensinamentos e doutrinas criados por homens “desviados da verdade”.

Como entraremos nós nesta luta contra a natureza enganosa dos nossos próprios corações? Como calar os que desviam os incautos? Como praticar as claras instruções de Paulo a Tito nos dias de hoje? Eis o desafio do teólogo, do líder, de cada crente que se sente chamado a proclamar o Evangelho do Reino de Deus.

FONTE: Teologia e Psicanálise

Nenhum comentário: